quarta-feira, 6 de julho de 2011

Como é o novo padrão familiar brasileiro?

Como estava todo mundo se projetando no que TV transmitia, a mulher mudou sua postura dentro do corpo familiar, o homem também... E por consquência o filho.
Com a saída da mulher do seu recinto domiciliar, a educação de seus filhos passou a pertencer a ser responsabilidade de outra pessoa, o que no Brasil chamamos de babá. Sem entrarmos no detalha da criança sofrendo interferência no seu comportamento, por assistir as programações televisivas, os filhos passaram a ter um tempo reduzido com os pais.
O café da manhã é rápido, isso quando os pais não o fazem a caminho do serviço.  A mãe não é mais a reguladora do status psicológico familiar e agora, ela participa das funções financeiras do esposo. O pai agora não é sozinho o caixa eletrônico da família, mas conta com a mãe para cuspir algumas cédulas monetárias.
O filho, também influenciado pelas telenovelas, passa a buscar a sua independência, mesmo sendo ainda um dependente financeiro dos pais. No entanto, sente-se no direito de reivindicar o que ele passa então a julgar merecedor. Afinal, é isso que ele está vendo acontecer por toda a parte... Por toda a parte da sala de vídeo.
Muitas vezes, quando suas vontades não são atendidas este jovem se revolta e passa a buscar saída nas opções que a mídia, amigos e suas convicções ideológicas oferecem. De drogas a casamentos, o universo de escolha dos jovens é muito amplo e muitas vezes não são positivas as características das escolhas que fazem. Os pais sem terem tempo de discutir com o filho a situação, passam a adiar para “amanhã” um assunto que deveria ser resolvido naquele momento. Anos mais tarde esta responsabilidade será jogada para a sociedade e seus órgãos reguladores, como a justiça, por exemplo.
A tendência é de que as gerações futuras sejam cada vez mais liberais, liberadora, desregulada e sem regras, em relação à criação de seus filhos, sem entrar na peculiaridade dos jovens que vem de boa educação e se desvirtuam por conta própria, devido a diversos fatores, com isso, estes cada vez mais terão um exemplo de valores quebrados e distorcidos, de convivência e de ideologia passado pela família.
Esta projeção que antes o filho fazia no pai, na mãe, nos parentes mais próximos poderá ser transferida, outra vez, para a mídia e para a sociedade. Quando uma pessoa perde o seu ponto de identificação ela logo transfere para outro, a família com suas bases abaladas encontrará dificuldades para sobreviver ao século XXI. É o grande problema que estamos enfrentando na atualidade a ponto de apocalípticos dizerem que a família já acabou. Não podemos discordar, caso o parâmetro de referência seja a família nos moldes de nossos tataravós.
Dificilmente será possível abordar a disfunção familiar, sem abordar os reflexos de sua problemática para a sociedade de uma forma geral. Ainda mais considerando que um indivíduo não vive sozinho em uma cúpula, ele está, ainda que involuntariamente, necessitado do convívio social, ou pelo menos das mínimas relações sociais.
Então, chegamos a este ponto nos questionando se esta quebra dos padrões familiares está causando os problemas sociais que temos hoje? Se a TV com toda a sua potencialidade de manipulação ao transmitir cenas de uma juventude rebelde sem causa, não está auxiliando na deformação do caráter desta geração?
Pelo visto, não estamos vendo nem a ponta do ice berg.
É como Edgar Morin nos alerta: “Há demasiadas variáveis emaranhadas, demasiadas incertezas, uma tensão pré-apocalíptica grande demais para que ousemos prever”.
 
Vídeo sobre o novo padrão da família brasileira
Nota: Para saber mais sobrea nova família brasileira clique aqui.

Da onde veio o novo padrão familiar?


De qual cultura veio a nova cultura brasileira?
Para Morin “(...) uma cultura constitui um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os instintos, orientam as emoções.” (1969, página17) e nos aproveitando do estudo de Mcluhan (1964 )sobre as extensões do homem, considerando a televisão como uma extensão ela também irá provocar “consequências psíquicas e sociais que logo alteraram os limites e padrões de cultura.” Assim, a transculturalização entre os aspectos da família brasileira, com os novos padrões da família norte-americana, esta se alterou de forma que trouxe consequências para a sociedade brasileira, muito além de demandas adolescentes nos pátios das escolas.
Os indivíduos começaram a se projetar no produto que começou a ser reproduzido pelas mídias, influenciando a um novo comportamento por parte dos cidadãos brasileiros. Uma percepção melhor deste fato temos quando visualizamos a organização da família aristocrática dos anos entre 1960, 1980 que foi totalmente reformulada, pois, o aparelho de TV era de alto custo e somente pessoas financeiramente bem colocadas que conseguiam possuí-lo. Isto pode ser observado facilmente no seriado “Anos Rebeldes” de Gilberto Braga, dirigida por Dennis Carvalho e produzida pela Globo produções, no qual as famílias melhores colocadas socialmente é que já estavam rompendo com o padrão conservador, afinal, elas estavam mais susceptível a aderir aos novos padrões advindos do estrangeiro.
Nesta época, fazia parte do glamour social exaltar os produtos que não fossem de origem brasileira, era o status social da hig class. A mídia reproduzia a mudança do comportamento do norteamericano e o brasileiro em geral imitava.

Nota: Para saber mais sobre como o brasileiro se projetou nos padrões norte-ameicanos clique aqui!

Essa projeção realmente acontece?


O novo padrão para a família brasileira se tornaria a organização que recebíamos dos estadosunidenses. Mas, em solos latinos, esta transformação teria uma consequência social muito grande, principalmente para os jovens das próximas gerações.

Levando-se em conta que o ser humano aprende imitando o que ele vê, ele se torna, em grande parte, a projeção daquilo que percebe do meio que lhe transmite informação. Os neurônios espelhos também “permitem não apenas a compreensão direta das ações dos outros, mas também das suas intenções, o significado social de seu comportamento e das suas emoções.” Allan Lameira, Luiz Gawryszewski e Antônio Pereira (Neurônios do Espelho,2006),  Facilitando assim, o convívio e a adaptação no meio social. Afinal, como consta na obra de Marshal Mcluhan sobre o episódio bíblico do antigo testamento, no qual o salmista deseja que o homem se torna aquilo que ele estava contemplando (para ler este trecho citado, clique aqui). Ambos apresentam a comprovação de que os indivíduos começam a tomar características daquilo que está observando, ainda que seja sem sua escolha consciente.
Levando-se em conta que a maioria da população brasileira é audiência fiel das telenovelas (vide o valor dos comerciais entre as novelas do horário nobre em canais abertos como Globo, SBT e Record), podemos supor, de certa forma já concluindo, que grande parte do comportamento social, individual e familiar da população é mera projeção das imagens oferecidas pela mídia. O ser humano poderia ser considerado então, em muitos dos seus aspectos, como projeção dos seus heróis apresentados pelos veículos de comunicação.
Um exemplo disso é quando vemos adolescentes nas escolas reproduzindo cenas de novela. Jornaizinhos difamatórios, brigas no meio dos pátios, divisão de grupos “populares” e dos “subjulgados”, etc.

E o que aconteceu depois da chegada da TV?

Anterior a intromissão da programação televisiva no cotidiano da sociedade, as famílias tinham uma configuração bem estabelecida, que em qualquer fotografia familiar antes dos anos 1950 pode nos mostrar: Os pais, os filhos e porque não dizer um cachorro, um gato e um rato? Basta olhar o plano de fundo desta página, ou para esta primeira foto do post, para entender do que estamos tratando, ou se recordar do que é conhecido por "novelas de época", que mostram, ou pelo menos deveriam mostrar, um padrão de família bem diferente do que temos na atualidade.
A televisão a princípio era um elemento de união da família, na hora da novela, jogos e programas, filhos, pais e até mesmo vizinhos (em famílias menos providas financeiramente) se reuniam para assistir. Hoje, cada um tem sua TV em seu cômodo da casa. Os filhos fazem as refeições na sala assistindo TV, os pais em horários trocados por conta da rotina do serviço e isso não é nem metade da transformação que a “caixa falante” começou a trazer.
Um grande instrumento nas mãos dos produtores de conteúdo das emissoras de televisão foram as telenovelas. Estas passavam, e ainda passam, um novo padrão, ou padronizando uma nova face para a família, e a projeção sendo efetivada no mundo real pelos espectadores, o modelo que a TV mostrava, passou a ser inserido na sociedade.
Geralmente, as novelas mostravam os conflitos que realmente aconteciam nas famílias, no entanto, estes conflitos eram atenuados, ou acrescidos de acordo com o interesse dos produtores para atrair a atenção dos espectadores da programação.
Com o intuito de expandir o tempo de imagem, os conflitos iam e voltavam; geralmente, a maioria tendo desfechos positivos, como por exemplo, quando do filho resolve sair de casa, a mulher insatisfeita com o esposo se separa e consegue prosperar em uma sociedade preconceituosa, o marido que trai a esposa e nunca é descoberto, dentre outros temas.
A projeção das pessoas, ao verem que o cidadão apresentado pela TV sempre conseguia alcançar o seu happy end, fez com que muitas pessoas se projetassem nos acontecimentos. Desta forma, a família do mundo real muitas vezes não encontrava as saídas mirabolantes que aconteciam nas novelas, a traição era descoberta, o filho não era sustentado pelos pais quando saía de casa, a mãe não conseguia se manter e pronto, o caos estava instaurado. Mas não vamos tocar neste tema dramático.
A família brasileira realmente se remodelou com a chegada da televisão e, principalmente quando esta inseriu em sua programação as telenovelas. Assim, a projeção que os indivíduos possivelmente exerceram em suas vidas, baseando-se nos seus “auteregos”, ou olimpianos, ou se quiser ser mais íntimo, os personagens é feita e cima destes indivíduos apresentados pelas TV em sua programação.

Nota: Para sabre como era o padrão da família brasileira antes da chegada da TV é só clicar aqui.

Como a TV manipula o seu público?

As pessoas da TV propõem um modelo de vida, uma estética da felicidade e do prazer. Suas vidas são uma espécie de aspiração para quem assiste, assim como Edgar Morin nos explica sobre esse efeito projetivo que as pessoas fazem sobre aquilo que elas veem e adiram.
É desta forma, vemos cada vez mais essa caixa falante lançando moda, corte de cabelo, estrutura corporal, roupas, sapatos, musicas, ideias, criando novas tribos e novos comportamentos para o seu público se projetar. Assim ela se torna a intrometida reguladora da estrutura familiar.
Então, podemos colocar essas ações projetadas do telespectador na “vida” apresentada pela televisão, principalmente pelas telenovelas, dentro do seu campo familiar, ainda que muitas vezes essa assimilação se dê de forma inconsciente, lenta e pouco perceptível, de forma que pode facilmente ser explicada pela conceituação de Neurônios Espelho

Nota: Quer saber mais sobre como as novelas influenciam a sua vida? Então, clique aqui!



Ver novelas

 Agora você ainda tem uma opção caso perca o seu episódio da novela: Basta entrar no You tube

Afinal, de quantos assuntos você pode ficar de fora no próximo dia se não assistir o capitulo inédito transmitido hoje? Só que cuidado... A TV te transforma.

Não se pode culpar apenas as novelas pela total transformação da sociedade, afinal, cada um de nós possuímos um controle remoto, além de podermos escolher o que vamos fazer com as informações que recebemos. No entanto, há de existir um acordo quanto a essa manipulação das pessoas, ainda que involuntária, porque muitas vezes elas imitam o que estão vendo sem perceber o que estão fazendo.
É como diz o povo por ai: Ande com duas sacolas, uma furada e uma com fundo, depois selecione o que você vai guardar para si.
Mas não se esqueça:
Embora tantos aspectos negativos, a TV se torne campainha para quem mora sozinho e seus personagens começam a fazer parte da família. Tem gente que leva tão a sério a programação que quando vê artista que fez um papel de vilão na rua, quer bater na pessoa.
É preciso saber separar... E principalmente, saber separar o que pertence, ou não pertence